CARA DE MÃE
E aí que ele nasceu. E junto dele nasceu uma mãe. Um pai. Uma família.
Um SMS me deu a notícia. Estava tão ansiosa que mal consegui me conter. Liguei para a mãe, falei rapidinho com ela, peguei o endereço com “a tia do ano” e saí correndo do escritório. Como disse, achei meu botão do foda-se dia desses e fui tratando de fazer uso dele. Larguei computador ligado, disse que não sabia se voltava e levei celular no silencioso à tiracolo.
Parecia que eu era o pai. Peguei taxi correndo, esperei uma cara o elevador, me perdi na maternidade, vi pessoinhas no berçário, me encantei com os enfeites de Boas Vindas e dei de cara com um avião na porta do quarto dela: João Pedro.
Bati algumas vezes, soquei a orelha na porta pra ver se tinha barulho lá dentro, mas nada. Foi aí que a avó paterna me viu e veio correndo me receber. Sorriso de orelha a orelha. O avô paterno estava ao lado do berçário, esperando o baby chegar.
Ficamos ali, meio que se contendo e esperando o pimpolho vir da série de exames que fora submetido. A mãe dormia e estava sozinha no quarto.
E lá pelas tantas, eis que ele chega no sossego do sono, vestindo um casaquinho azul (que a enfermeira botou ao contrário) mais uma manta amarelinha. A enfermeira entrou no aquário, botou o bichinho na bancada e começou a escrever um monte numa ficha que não acabava nunca mais (como pode uma pessoinha virgem de histórico ter tanta coisa pra preencher numa ficha de maternidade?). E ficamos alí, os três bobos, olhando para ele e tecendo os primeiros comentários e elogios da vida dele. Mais tarde chegou avó materna e tia. E depois bisa e biso.
E fomos pro quarto esperar o pequeno.
A mãe dormia bem, serena e tranqüila. Mais adiante chegou o pai, todo bestão. E na seqüência chegou o bebê. Ele veio no colo da nurse. E eu, sentada no sofá do quarto pude presenciar ele abrir os olhos sem entender o que tava pegando. E ele olhou sem saber o que viu.
Fiquei ali, prostrada, vendo tudo o que significava a chegada de uma criança no mundo. Acho que fui a primeira visita que não era parente que teve a oportunidade de presenciar tudo aquilo: a primeira vez que a mãe o via, a massagem no rostinho do bebê para aprender a sugar, a primeira mamada, a primeira vez que o pai pegava o filho nos braços. E no meio da correria, pareceu que o quarto se encheu de fadas, elfos e seres encantados.
Ele, o pequeno é muito tranqüilo, muito bonzinho. E muito lindo! Arriscaria dizer que até simpático. Nasceu com 3,240 Kg. E comprido. E sem cara de joelho. A cabeça redondinha, a orelhinha perfeita e olhos espertos pra quem só enxergava as vísceras da mãe.
Tudo muito simples e ao mesmo tempo novo.
Ela ainda não sabia como alimentá-lo. Três frases da enfermeira foram suficiente para fazê-la entender. E o resto, o bebê fez sozinho.
Tiramos fotos, conversamos um pouco e eu fiquei segurando a mão dela um tempão. Senti um carinho, uma ternura infinita que emanava dela. Preocupei-me se estava sentindo dores mas ela me olhou com olhos felizes dizendo que não sentia nada por causa da anestesia. E foi aí que eu percebi como ela estava linda. Tão linda quanto no seu casamento. Tão linda quanto aquele dia que saímos e que dei a dica de que ele parecia ser um cara legal pra ela.
Lembro-me do nosso primeiro dia de faculdade. Ela foi a primeira pessoa que encontrei no corredor procurando a sala de aula para começar o 1º semestre. Parecia uma européia, uma italianinha mais precisamente. Cabelos negros e cacheados em coque onde alguns fios lhe caiam sobre o rosto, pele bem alva (muito branca mesmo!), olhos esverdeados, camisa azul e uma calça estilosa. Era como se ela tivesse pulado de “Sob o Sol da Toscana”, porém sem a ruivisse.
E essa era ela. Na dela, na boa, em paz.
Não segurei a criança. Confesso que tive vontade, mas achei melhor reservar esse direito aos novatos pais e tia, avós, avôs, bisa e biso. Fiquei coadjuvante olhando para ele, tão pequeno, tão rosinha e todo frouxinho, ainda em posição de feto.
Entendi agora porque os bebês não esticam suas perninhas. Eles ficam o tempo todo comprimidos na barriga da mãe e não nascem sabendo esticar os membros. Entendi também porque as mãozinhas estão sempre fechadas, eles não sabem que têm mãos e que elas servem pra alguma coisa. Eles não sabem de nada. São virgens de consciência, de história e de fé. Mas são cheios de fome, de vontades e de vida.
Não chorou. Foi passado de colo em colo e sequer percebeu. Imaginei ele indo para a escola, brincando com seus brinquedos, aprendendo a falar. E pensei que de repente queria fazer parte da educação dele, de uma forma mínima, que fosse.
Mais uma vez, um bebê me concede o prazer de entender algumas coisas. E se eu já tinha mudado, ontem a revolução foi total.
Bebês estreitam nossos laços com o divino. Acho que eles representam a forma física mais próxima de Deus (que pra mim são fadas, elfos, gnomos, dragões, seres encantados, a natureza e tudo de mais lindo que os olhos em comunhão com todos os nossos sentidos são capazes de ver e reconhecer).
Agora é vida nova, novas lições para aprender. E muita, muita gente pra ficar babando.
Um SMS me deu a notícia. Estava tão ansiosa que mal consegui me conter. Liguei para a mãe, falei rapidinho com ela, peguei o endereço com “a tia do ano” e saí correndo do escritório. Como disse, achei meu botão do foda-se dia desses e fui tratando de fazer uso dele. Larguei computador ligado, disse que não sabia se voltava e levei celular no silencioso à tiracolo.
Parecia que eu era o pai. Peguei taxi correndo, esperei uma cara o elevador, me perdi na maternidade, vi pessoinhas no berçário, me encantei com os enfeites de Boas Vindas e dei de cara com um avião na porta do quarto dela: João Pedro.
Bati algumas vezes, soquei a orelha na porta pra ver se tinha barulho lá dentro, mas nada. Foi aí que a avó paterna me viu e veio correndo me receber. Sorriso de orelha a orelha. O avô paterno estava ao lado do berçário, esperando o baby chegar.
Ficamos ali, meio que se contendo e esperando o pimpolho vir da série de exames que fora submetido. A mãe dormia e estava sozinha no quarto.
E lá pelas tantas, eis que ele chega no sossego do sono, vestindo um casaquinho azul (que a enfermeira botou ao contrário) mais uma manta amarelinha. A enfermeira entrou no aquário, botou o bichinho na bancada e começou a escrever um monte numa ficha que não acabava nunca mais (como pode uma pessoinha virgem de histórico ter tanta coisa pra preencher numa ficha de maternidade?). E ficamos alí, os três bobos, olhando para ele e tecendo os primeiros comentários e elogios da vida dele. Mais tarde chegou avó materna e tia. E depois bisa e biso.
E fomos pro quarto esperar o pequeno.
A mãe dormia bem, serena e tranqüila. Mais adiante chegou o pai, todo bestão. E na seqüência chegou o bebê. Ele veio no colo da nurse. E eu, sentada no sofá do quarto pude presenciar ele abrir os olhos sem entender o que tava pegando. E ele olhou sem saber o que viu.
Fiquei ali, prostrada, vendo tudo o que significava a chegada de uma criança no mundo. Acho que fui a primeira visita que não era parente que teve a oportunidade de presenciar tudo aquilo: a primeira vez que a mãe o via, a massagem no rostinho do bebê para aprender a sugar, a primeira mamada, a primeira vez que o pai pegava o filho nos braços. E no meio da correria, pareceu que o quarto se encheu de fadas, elfos e seres encantados.
Ele, o pequeno é muito tranqüilo, muito bonzinho. E muito lindo! Arriscaria dizer que até simpático. Nasceu com 3,240 Kg. E comprido. E sem cara de joelho. A cabeça redondinha, a orelhinha perfeita e olhos espertos pra quem só enxergava as vísceras da mãe.
Tudo muito simples e ao mesmo tempo novo.
Ela ainda não sabia como alimentá-lo. Três frases da enfermeira foram suficiente para fazê-la entender. E o resto, o bebê fez sozinho.
Tiramos fotos, conversamos um pouco e eu fiquei segurando a mão dela um tempão. Senti um carinho, uma ternura infinita que emanava dela. Preocupei-me se estava sentindo dores mas ela me olhou com olhos felizes dizendo que não sentia nada por causa da anestesia. E foi aí que eu percebi como ela estava linda. Tão linda quanto no seu casamento. Tão linda quanto aquele dia que saímos e que dei a dica de que ele parecia ser um cara legal pra ela.
Lembro-me do nosso primeiro dia de faculdade. Ela foi a primeira pessoa que encontrei no corredor procurando a sala de aula para começar o 1º semestre. Parecia uma européia, uma italianinha mais precisamente. Cabelos negros e cacheados em coque onde alguns fios lhe caiam sobre o rosto, pele bem alva (muito branca mesmo!), olhos esverdeados, camisa azul e uma calça estilosa. Era como se ela tivesse pulado de “Sob o Sol da Toscana”, porém sem a ruivisse.
E essa era ela. Na dela, na boa, em paz.
Não segurei a criança. Confesso que tive vontade, mas achei melhor reservar esse direito aos novatos pais e tia, avós, avôs, bisa e biso. Fiquei coadjuvante olhando para ele, tão pequeno, tão rosinha e todo frouxinho, ainda em posição de feto.
Entendi agora porque os bebês não esticam suas perninhas. Eles ficam o tempo todo comprimidos na barriga da mãe e não nascem sabendo esticar os membros. Entendi também porque as mãozinhas estão sempre fechadas, eles não sabem que têm mãos e que elas servem pra alguma coisa. Eles não sabem de nada. São virgens de consciência, de história e de fé. Mas são cheios de fome, de vontades e de vida.
Não chorou. Foi passado de colo em colo e sequer percebeu. Imaginei ele indo para a escola, brincando com seus brinquedos, aprendendo a falar. E pensei que de repente queria fazer parte da educação dele, de uma forma mínima, que fosse.
Mais uma vez, um bebê me concede o prazer de entender algumas coisas. E se eu já tinha mudado, ontem a revolução foi total.
Bebês estreitam nossos laços com o divino. Acho que eles representam a forma física mais próxima de Deus (que pra mim são fadas, elfos, gnomos, dragões, seres encantados, a natureza e tudo de mais lindo que os olhos em comunhão com todos os nossos sentidos são capazes de ver e reconhecer).
Agora é vida nova, novas lições para aprender. E muita, muita gente pra ficar babando.